maio 19, 2009

Coragem...

Dois homens, ambos gravemente doentes, estavam no mesmo quarto de hospital. Um deles podia sentar-se na sua cama durante uma hora, todas as tardes, para que os fluidos circulassem nos seus pulmões.A sua cama estava junto da única janela do quarto.O outro homem tinha de ficar sempre deitado de costas.Os homens conversavam horas a fio. Falavam das suas mulheres, famílias, das suas casas, dos seus empregos, dos seus aeromodelos, onde tinham passado as férias...E todas as tardes, quando o homem da cama perto da janela se sentava,passava o tempo a descrever ao seu companheiro de quarto todas as coisas que conseguia ver do lado de fora da janela.O homem da cama do lado começou a viver à espera desses períodos de uma hora, em que o seu mundo era alargado e animado por toda a actividade e cor do mundo do lado de fora da janela.A janela dava para um parque com um lindo lago. Patos e cisnes, chapinhavam na água enquanto as crianças brincavam com os seus barquinhos. Jovens namorados caminhavam de braços dados por entre as flores de todas as cores do arco-íris. Árvores velhas e enormes acariciavam a paisagem e uma tênue vista da silhueta da cidade podia ser vislumbrada no horizonte.Enquanto o homem da cama perto da janela descrevia isto tudo com extraordinário pormenor, o homem no outro lado do quarto fechava os seus olhos e imaginava as pitorescas cenas.Um dia, o homem perto da janela descreveu um desfile que ia apassar: Embora o outro homem não conseguisse ouvir a banda, conseguia vê-la e ouvi-la na sua mente, enquanto o outro senhor a retratava através de palavras bastante descritivas.Dias e semanas passaram. Uma manhã,a enfermeira chegou ao quarto trazendo água para os seus banhos, e encontrou o corpo sem vida, o homem perto da janela, que tinha falecido calmamente enquanto dormia.Ela ficou muito triste e chamou os funcionários do hospital para que levassem o corpo.Logo que lhe pareceu apropriado, o outro homem perguntou se podia ser colocado na cama perto da janela. A enfermeira disse logo que sim e fez a troca.Depois de se certificar de que o homem estava bem instalado, a enfermeira deixou o quarto.Lentamente, e cheio de dores, o homem ergueu-se, apoiado no cotovelo, para contemplar o mundo lá fora. Fez um grande esforço e lentamente olhou para o lado de fora da janela que dava, afinal, para uma parede de tijolo!O homem perguntou à enfermeira o que teria feito com que o seu falecido companheiro de quarto lhe tivesse descrito coisas tão maravilhosas do lado de fora da janela.A enfermeira respondeu que o homem era cego e nem sequer conseguia ver a parede. Talvez quisesse apenas dar-lhe coragem...

maio 07, 2009

Desilusão ou pro-vocação?

Na homilia da Missa Crismal deste ano, preparada pelo Santo Padre, temos uma síntese do significado do sacerdócio no contexto da vocação. Trata-se de uma homilia lindíssima, carregada de significado. Na realidade é um texto que nos ajuda a reentrar neste ministério com o olhar de Deus, e não apenas com o nosso olhar... É no fundo, um texto espiritual que ajuda os sacerdotes, ou aqueles que se preparam para o ser, a recuperar a força original deste sacramento tão rico na sua profundidade ontológica, sacramental,espiritual e teológica.
O sacerdote é aquele que morre de si próprio, apostando tudo o que é e tudo o que tem em detrimento da vontade de Deus. Neste aspecto, este corte com a vontade própria, supõe um corte nos próprios sonhos, nos próprios projectos... ou seja, é um desafio monumental que compreende uma vida inteira e que prevê a sua vivência no dia-a-dia com a tranquilidade própria de quem se deixa repousar no Senhor.
Este desafio pode ser levado na atitude a uma frustração, ou na sua compreensão, a uma compreensão provocatória. Quer isto dizer que por um lado, aquele que se propõe a esta caminhada, a esta aposta, investe tudo o que tem e deixa de lado os seus projectos podendo ver nisso uma certa frustração por não fazer apenas o que quer e o que idealiza; mas pode também assumir este desafio divino como uma provocação à sua realidade circunscrita à sua vontade e ao seu gosto, sendo que pode ser vista como caminho vocacional - daí que fale numa provocação.
De facto, não há como investir e arriscar e aceitar o desafio que Deus nos faz hoje, hic et nunc (aqui e agora).
Como acontece com o sacerdote, acontece com as mais diversas consagrações. Outro dado que o Santo Padre refere é que a consagração outra coisa não é, se não úma "devolução" a Deus do que Ele nos dá. Assim, consagrar um objecto ou alguém, é devolver ao Criador a obra criada... E é por essa doação de nós próprios que conseguiremos alcançar a santidade, num estado pleno de relação com Deus. Criados para a relação, só assim compreenderemos o mistério da nossa própria vocação...